terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A Campanha da Imprensa Imperialista Contra a Morte Pela Fome na Coreia do Norte



A Campanha da Imprensa Imperialista Contra a Morte Pela Fome na Coreia do Norte

Por: Ícaro Leal Alves

 Crianças Norte-coreanas fonte - http://www.facebook.com/SolidariedadeACoreiaPopular

Acabei de ler no portal Centro do Socialismo um texto muito interessante intitulado “a mídia capitalista e a Coreia do Norte”, onde o autor problematiza a intensa campanha midiática anti-norte-coreia. Em um trecho que me chamou particularmente a atenção o autor afirma:

“Suponhamos que fosse verdade. Que a fome tivesse assumido um grau tão amplo no país que o canibalismo tivesse se tornado um hábito comum. Então, eu digo que o ocidente seria um dos principais culpados por isso. Afinal, a ONU tolera as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e seus aliados ao povo coreano, sanções que prejudicam terrivelmente a economia do país. Mesmo que o governo da Coreia fosse tão maligno como prega a propaganda ocidental, não seria melhor evitar medidas que possam prejudicar a qualidade de vida dos coreanos? Que culpa os coreanos tem do ocidente não gostar do seu governo?”

O autor estava se referindo a notícia, divulgada recentemente por uma agência japonesa que relatava casos de canibalismo na Coreia do Norte (a República Popular e Democrática da Coreia) e particularmente um caso onde um pai, após matar e comer seus dois filhos, foi submetido a pena de fuzilamento. Segundo diz a reportagem o motivo da onda de canibalismo generalizado no país é uma intensa crise de fome que teria vitimado pelo menos 10 mil pessoas só no ano passado (somente nas províncias de Hwanghae Norte e Sul). 

Assim como o autor do primeiro texto mencionado, não pretendo fazer propaganda do governo norte-coreano. Meu único objetivo é me questionar sobre a veracidade de tais relatos. Afinal de contas a desinformação e a demonização desse país, do qual, tão pouco sabemos (eu pelo menos sei muito pouco) é uma constante. Recordo-me da morte do antigo presidente daquela república, Kim Jung Il, há dois anos. A imprensa Brasileira surpresa, parecia perplexa ao transmitir cenas de norte-coreanos e norte-coreanas chorando desesperadamente a morte do tão temível ditador. Dois dias depois, se não me engano, os mesmos jornalistas antes aturdidos, agora anunciavam triunfantes a revelação dos motivos do pranto desesperado. Em uma matéria, onde só faltaram efeitos pirotécnicos para completar a orgia de sensacionalismo desavergonhado, o Jornal Nacional noticiava que o governo “comunista” (essa referência não podia faltar) havia ordenados o pranto, afirmando que quem não chorasse passaria 6 meses em campos de trabalhos forçados. Senão por mais nada, somente o absurdo da notícia me parece suficiente para desmenti-la. Coagir uma população inteira de 24 milhões de pessoas com a ameaça da deportação para campos de trabalhos caso elas não chorassem? Mas, ainda havia mais. Após todo o show, ao finzinho da matéria, quase timidamente, o ancora do jornal anuncia; a informação fora fornecida por um órgão de imprensa do governo sul-coreano, que por sua vez não indicou qualquer fonte. A piada está completa. O jornal mais visto do país anuncia com efeitos sensacionais uma informação tão comprometedora sobre um governo, cuja única fonte é o Estado rival, que há 50 anos está em estado de guerra com esse e que não indica qualquer fonte oficial capaz de comprovar o que diz. Obvio que o efeito sensacionalista supera a factibilidade. E esse “detalhe” pode passar e sem dúvidas passou despercebido à maioria dos que assistiram ao telejornal. 

Por esse e outros motivos decide buscar as evidências primárias que me permitissem avaliar com mais objetividade a situação da crise alimentar na Coreia Democrática e Popular. Não tenho nem mesmo o objetivo de negar que ela exista ou que o governo daquele país ainda tenha que avançar muito nesse ponto fundamental, já que os índices de desnutrição e de mortalidade infantil deixam claro que ainda existe muito que se fazer nesse campo. Porém, seria mesmo tão desesperadora a situação, que as pessoas necessitem comer seus próprios filhos, ou os avos desenterrarem os corpos dos seus netos? A fome seria tão grave ao ponto de generalizar o canibalismo entre a população? E mais, é legitima toda a campanha de ódio da imprensa contra o regime de “monarquia comunista”, que impõe a fome? Vamos aos dados.

Na matéria citada, aponta-se que pelo menos 10 mil pessoas morreram de fome no ano passado. Curiosamente os dados oficiais disponíveis na internet demonstram que o índice de mortalidade na Coreia do Norte não é maior do que, por exemplo, o do Reino Unido e o de Portugal. Enquanto o do primeiro país (país tema desse texto) é de 9,12 mortes por 1.000 habitantes (dados de julho de 2011) o de Reino Unido e Portugal são, respectivamente, 9,33 mortes por 1.000 habitantes e 10,86 mortes por 1.000 habitantes (dados do mesmo período). Ora, se a “monarquia comunista dos Kim” pode ser condenada mundialmente e escarnecida na imprensa por sua mortalidade generalizada, por que a monarquia inglesa, que ostenta índices de mortalidade ainda maiores não deve ser vitima do mesmo opróbio? Ou Portugal, cuja mortalidade supera a do Reino Unido? 

Também observamos que os dados oficiais dão conta de confirmar que a Coreia do Norte, no fator taxa de mortalidade não esta muito pior do que os Estados Unidos, a maior potência mundial, líder econômica e que impôs o bloqueio econômico ao pequeno país anti-imperialista. Na superpotência o índice de mortalidade é de 8,39 mortes por cada 1.000 habitantes (dados de julho de 2011). Obvio que nesse país os motivos da morte são bem diferentes. Nos Estados Unidos as mortes por arma de fogo têm, sem dúvida, um peso muito maior, mas longe de se condenar os defensores do porte de armas como monstros que impõe a morte, a imprensa internacional propagandeia a mentira aberrante que controle de armas é sinônimo de fascismo. 

Se se compara a situação da mortalidade com outros países desenvolvidos como Espanha e França, a Coreia não se parece com um campo da morte. Nesses países o índice também se mantem acima de 8 mortes por 1.000 habitantes e mesmo se aproximando dos 9. 

Outro dado surpreendente é que a expectativa média de vida do norte-coreano é de 69,2 anos. Expectativa de um país desenvolvido, que não supera a de nenhum dos países mencionados, mas que dá uma boa ideia do destino que separa os povos do mundo colonial que decidiram ser livres, como esse, dos que preferiram, ou, caíram sob a “proteção” da “democracia internacional” como o Afeganistão, onde a expectativa média de vida é de 49,72 anos, chegando à somente 48,45 anos para os homens. Nesse país, que a imperialismo decidiu libertar e proteger, há 12 anos, o índice de mortalidade é de 14,59 mortes por 1.000 habitantes (dados de julho de 2011). Estaria a campanha de massas da mídia ocidental preparando o ambiente para esse tipo de libertação a americana? 

Ao refletir sobre esses dados é bom ter em mente que aqui comparamos um país que há menos de um século deixou, como decorrência de um imenso movimento popular, de ser uma colônia do império japonês, que, em consequência de sua opção pela liberdade e a autodeterminação teve seu território dividido e seu povo massacrado em uma das mais sangrentas guerras da história do século XX – guerra levada a cabo pelo mesmo império que até nossos dias submete esse país, pequeno e isolado a um terrível embargo econômico – com países capitalistas (e imperialistas) desenvolvidos (exceção feita ao Afeganistão). Também não podemos esquecer que todas as campanhas de intervenção militar no último século foram antecedidas de intensa campanha midiática de difamação e demonização, cuja única novidade é o poder cada vez mais crescente de propagação. 

O imperialismo prepara novos derramamentos de sangue injustificáveis, a mentira é a arma que antecede os fuzis e as metralhadoras. 

Solidariedade ao Povo Norte Coreano que tem o direito de ser livre e Soberano.

P.S: Segundo informações dos organizadores do Site Solidariedade a Coreia Popular as próprias autoridades da Coreia do Norte admitem que houve fome no país entre 1990 e 2000, como decorrência da perda dos principais parceiros econômicos (URSS e países do Leste da Europa) combinada a uma série de catástrofes naturais. Esse período é conhecido no país como a “Árdua Marcha” e já está encerrado.

Referências:









sábado, 26 de janeiro de 2013

Nota de Esclarecimento sobre o debate com O Communard



Nota de Esclarecimento sobre o debate com O Communard:
Mentiras de um socialdemocrata perdido em pleno século XXI 

Por: Ícaro Leal Alves

Os leitores devem estar informados que nossos travamos nos últimos dias um debate de ideias honesto com o Editor de O Communard. O último e final episodio desse debate foi um epitáfio do mesmo escrito pelo mesmo Communard. Como em todo debate, o nosso contraditor que se escondeu atrás da mascara de “camaradagem” foi mais uma vez desonesto. Como vinha fazendo em todo debate mentiu e destorceu os fatos. 
            Nesse blog, onde temos um compromisso infindável com a verdade, nos vemos obrigado a esclarecer os fatos.

“O epitáfio de uma discussão impossível”


Como sabemos, nosso Communard decretou a morte desse. No decreto de nosso debatedor honesto afirma que o motivo do fuzilamento das discussões foi uma serie de comportamentos lamentáveis de nossa parte. Um deles o de não haver liberado o seu comentário lamentando o último artigo por nós publicado(1).

            No entanto, o Carrasco de nossa discussão mentiu. Ele não fez nenhum qualquer comentário no República Socialista. Todos os comentários são publicados após passarem por moderação, exceto se oferecerem conteúdo racista ou palavras de baixo-calão e ofensas pessoais.

            Os comentários do nosso Communard, por sua vez, não só estão liberados, como a prova de que ele não teve nenhum comentário barrado é que permanece disponível seu comentário em Resposta ao Connard de Lúcio jr. Resposta a qual ele minha acusa de não ser franco.


Mentira pra todo lado:

As mentiras apresentadas na nossa discussão pelo Communard fuzilador de debates não param por ai. O nosso “socialdemocrata” – como o autor em questão é denominado em Revista Cidade Sol(2) – lança suas calunias também contra Marx, Lenin e Stalin.


Marx e seu desprezo pelos camponeses


            Os bakuninistas afirmando que Marx desprezou os camponeses os tratando como reacionários tem apresentado o marxismo como uma teoria conservadora de uma elite burocratizada dos operários.

            Infelizmente nossos anarquistas estão certos, em parte. Já que o marxismo dos marxianos socialdemocratas, que é uma mentira contra Marx, é exatamente isso. Mas esse não é o marxismo-leninismo.

             A prova disso está no próprio conjunto de textos produzidos pelo Communard. Ele afirma que Marx considerava os camponeses como uma massa reacionária por suas próprias condições de vida. Será isso verdade.

            Tal analise dos camponeses aparece pela primeira-vez em Marx no Manifesto do Partido Comunista escrito em fins de 1847 e publicado no inicio 1848(3). É por tanto anterior a uma série de processos revolucionários do Ocidente e do Oriente.

            Um marxista, que se diz adepto de um método de interpretação da realidade fundamentalmente histórico poderia negligenciar esse fato e não submeter tais teses a revisão a luz dos acontecimentos posteriores? Tal comportamento é incompatível com o marxismo. E o próprio Engels o admite em um prefácio a edição posterior do manifesto.

            Também O Communard comete uma incoerência, que segundo a sua lógica o transformaria em um contrarrevolucionário. Afirma que “(...) só em raras vezes camponeses se aliaram aos proletários (como na revolução chinesa)”(4). Ora, mas se os camponeses se aliam aos proletários em uma revolução, como a chinesa, isso não faz deles revolucionários? Ou séria O Communard a se tornar contrarrevolucionário ao admitir isso? Vejamos como isso se resolve no marxismo.

            Segundo diz o Communard em o 18 de Brumário, Marx é “(...) explícito em declarar que as condições de vida dos camponeses em geral os transformava em conservadores/reacionários (sem ele excluir que há sim camponeses revolucionários).”(5)

            Essa passagem levanta duas questões: Se por suas condições de vida os camponeses em geral são reacionários como pode haver camponeses revolucionários? Se existem camponeses revolucionários porque a política de aliança operário-camponesa dos bolcheviques é uma “fraude sociológica”? Talvez O Communard estivesse tentando explicar que enquanto classes os camponeses são reacionários, mas que é possível a existência de uns poucos indivíduos camponeses revolucionários. Mas vejamos o que o próprio Marx diz em o 18 de Brumário;

“Mas, pode-se objetar: os levantes camponeses na metade da França, as investidas do exército contra os camponeses, as prisões e deportações em massa de camponeses?

“A França não experimenta, desde Luís XIV, uma semelhante perseguição de camponeses ‘por motivos demagógicos’.

            “É preciso que fique bem claro. A dinastia de Bonaparte representa não o camponês revolucionário, mas o conservador; não o camponês que luta para escapar das suas condições de existência social, a pequena propriedade, mas antes o camponês que quer consolidar a sua propriedade, não a população rural que, ligada a cidade quer derrubar a velha ordem de coisas por meio de seus próprios esforços, mas, pelo contrário, aqueles que, presos por essa velha ordem em um isolamento embrutecedor, querem ver a si próprios e a suas propriedades salvos e beneficiados pelo fantasma do Império. Bonaparte representa não o esclarecimento, mas a superstição do camponês; não o seu bom-senso, mas o seu preconceito; não o seu futuro, mas o seu passado; não a sua moderna Cevènnes, mas a sua moderna Vendée.” (6)

Depois dessa passagem brilhante, que mais podemos dizer? Marx não só afirma que Bonaparte não representa os “camponeses em geral” como quer o nosso Communard, como ele afirma que Bonaparte representa um camponês “especifico”, o camponês conservador em contraposição ao camponês revolucionário, da Cevènnes. E vai mais além, afirma que Bonaparte representa o passado conservador dos camponeses em contraposição ao seu futuro revolucionário.
            Marx fala de um camponês enquanto sujeito histórico determinado, o que nosso Communard “materialista histórico dialético” ignora, apresentando em seu lugar essa entidade metafisica que é o camponês sempre reacionário. 
            Mas Marx vai mais além e explica o porque, de naquele momento o camponês conversador triunfar sobre o revolucionário;
“Os três anos de rigoroso domínio da República parlamentar haviam liberado uma parte dos camponeses franceses da ilusão napoleônica, revolucionando-os ainda que apenas superficialmente; mas os burgueses reprimiam-nos violentamente, cada vez que se punham em movimento. Sob a República parlamentar a consciência moderna e a consciência tradicional do camponês francês disputaram a supremacia. Esse progresso tomou a forma de uma luta incessante entre os mestres-escolas e os padres. A burguesia derrotou os mestres-escolas. (...) E essa mesma burguesia clama agora contra a estupidez das massas, contra a “vile multide”, que a traiu em favor de Bonaparte. Ela própria forçou a consolidação das simpatias do campesinato pelo Império e manteve as condições que originam essa rebelião camponesa. A burguesia, é bem verdade, deve forçosamente temer a estupidez das massas enquanto essas se mantêm conservadoras, assim como a sua clarividência, tão logo se tornam revolucionária.”(7) 
Com se vê para Marx o triunfo do golpe de Estado é muito mais da responsabilidade da burguesia que afastou os camponeses da República com o massacre das forças revolucionárias. 
Esse Marx apresentado pelo Communard, que despreza os camponeses e obscurece as culpas da burguesia não existe. 
Já havíamos apresentado uma citação comprovando que a ideia da aliança operário-camponesa era do próprio Marx.
Quatro anos após escrever o 18 Brumário, que é de março de 1852, Marx escreveria uma carta a Engels, datada de 14 de abril de 1856, onde apresenta a seguinte ideia: 
“tudo na Alemanha dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária por uma espécie de segunda edição da guerra dos camponeses. Então a coisa será óptima.” (8) 
Tudo dependerá da possibilidade de apoiar a revolução proletária em uma segunda edição das guerras camponesas para que a coisa toda ser ótima. Em sua argumentação sobre essa passagem o Communard afirma; “A sua citação sobre a ‘revolução proletária com uma segunda edição da guerra camponesa’ em nada confirma a ideia de que Marx defende um governo ‘proletário e camponês’, nem mesmo faz qualquer possibilidade de alusão a isso.”(9) Em sua argumentação, tudo o que falta é o argumento. Como uma citação literal do Marx real e não imaginado contradiz a minha construção de Marx eu a ignora simplesmente, essa é a lógica de sofistas socialdemocratas.


O Socialismo em um só país, mais uma vez


Já escrevemos antes nesse blog esclarecendo a questão do socialismo em um só país. Na ocasião comentávamos o artigo de Cerdeira(10). Também ele acusava Stálin de haver traído o internacionalismo ao introduzir a teoria do socialismo em um só país.  
            Logo na nossa primeira Carta Aberta ao Communard explicávamos que foi Lenin e não Stalin quem introduziu a teoria do socialismo em um só país(11). Também o site Comunidade Stálin publicou recentemente um trabalho no mesmo sentido(12). 
            Em Agosto de 1915 Lenin escreve:

“A desigualdade do desenvolvimento económico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Daí decorre que é possível a vitória do socialismo primeiramente em poucos países ou mesmo num só país capitalista tomado por separado. O proletariado vitorioso deste país, depois de expropriar os capitalistas e de organizar a produção socialista no seu país, erguer-se-ia contra o resto do mundo, capitalista, atraindo para o seu lado as classes oprimidas dos outros países, levantando neles a insurreição contra os capitalistas, empregando, em caso de necessidade, mesmo a força das armas contra as classes exploradoras e os seus Estado.” (13) 
Em setembro de 1916 reafirma:
“O desenvolvimento do capitalismo realiza-se de modo extremamente desigual nos diversos países. Nem poder ser de outra forma na produção mercantil. Daí decorre a indiscutível conclusão de que o socialismo não pode vencer simultaneamente em todos os países. Ele vencerá inicialmente num só ou em vários países, continuando os restantes a ser, durante certo tempo, burgueses e pré-burgueses.” (14) 
Como se vê a teoria do socialismo em um só país é inaugurada por Lenin. E dela não decorre nenhuma traição, mas a simples conclusão de que o triunfo do socialismo em todos os países simultaneamente é impossível e que enquanto o socialismo triunfará inicialmente em um ou alguns países outro permaneceram “durante certo tempo”, burgueses ou pré-burgueses. 
            Nosso Communard afirma que a teoria do socialismo em um só país que ele atribui a Stalin é uma traição ao internacionalismo para encobri o fato de que ela nascerá de Lenin e foi uma resposta dos bolcheviques a traição socialdemocrta na primeira guerra mundial, quando esses apoiaram suas burguesias nacionais contra o proletariado internacional e posteriormente participaram em governos burgueses que resultaram no massacre do proletariado revolucionário em diversos países. Apesar disso, O Communard se posiciona pelos socialdemocratas em detrimento dos bolcheviques e estranhamente se senti ofendido quando lhe acusam de socialdemocrata.


Stalin e seus 30 milhões de mortos


Em outra passagem da discussão o Communard lança mais uma mentira. No primeiro documento, que deu origem ao debate. Questiona se com os arquivos em aberto seria possível manter a posição “stalinista”. Em sua resposta a mim afirma que Stalin teria matado 30 milhões de pessoas nos expurgos.

            O Communard que insinuar assim que os arquivos abertos após o fim da URSS confirmariam o extermínio por parte de Stalin de 30 milhões de Soviéticos. Isso é uma mentira deslavada e criminosa.

            Amy Knight, uma historiadora que consultou os arquivos soviéticos antes classificados afirma: 
“As estimativas anteriores sobre os números das vítimas dos expurgos, que chegavam a mais de sete milhões, mostraram agora estar inflacionadas, quando comparadas com os dados dos arquivos. Embora os números ainda não sejam absolutamente exatos, o número menor citado aqui (2 milhões) é sem dúvida mais preciso.”(15) 
Como se ver número de 30 milhões nem se quer é cogitado e o de 7 milhões é tido por inflacionado. É preciso acrescentar que os Expurgo não eram sinônimos de fuzilamento e só uma parte dos expurgados fora condenada a morte(16). 
            Hoje sabemos que muitas penas de morte na URSS foram revertidas a longas penas de prisão e só uma pequena parcela foi levada a efeito efetivamente. A inocência dos condenados no período da repressão principalmente dos julgados nos processos de Moscou está longe de estar comprovada e alguns historiadores acreditam que eles foram culpados, assim como, que os Expurgos não podem ser vistos como fenômeno uniforme resultante de um regime totalitário e sob o total controle de Stalin, mas foram muito mais o resultado de um sistema político caótico e um processo no qual a personalidade de Stalin tem pouco importância (17).


Conclusão


Longe de esgotar todas as mentiras presentes nos textos de O Communard sobre a URSS, nos apresentamos alguns pontos significativos, que demonstram, ou a ignorância ou a má fé do nosso contraditor. Esse por sua vez nos acusa de não ser franco. Precipitadamente encerrou a discussão afirmando que já tínhamos desistido da discussão. Pelo contrário tínhamos solicitado a paciência de O Communard para aguarda nossa resposta. A discussão teve infelizmente um fim trágico e a lição que fica é o quando as discussões envolvendo os contraditores do bolchevismo são pautados na mentira lançada contra os comunistas e seus simpatizantes.

            Reafirmamos que nunca agimos de forma desonesta nessa discussão. Solicitamos aos leitores que confiram o material disponível e consulte outros textos disponíveis nesse blog sobre as mentiras lançadas pela burguesia contra o comunismo (mentiras que reaparecem em um blog comunista como O Communard).


Notas


1 – O epitáfio de um debate: como stalinistas debatem com comunistas in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/26/o-epitafio-de-um-debate-como-stalinitas-debatem-com-marxistas/>

2 – Lúcio Jr. Resposta ao “Connard” in <http://revistacidadesol.blogspot.com.br/2013/01/resposta-ao-connard.html>

3 – Marx e Engels, O manifesto do Partido Comunista in <http://www.marxists.org/portugues/marx/1848/ManifestoDoPartidoComunistaEmGalego/cap01.htm#I>

4 – Stalinismo em debate: resposta ao Ícaro e Lúcio Jr in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/22/stalinismo-ou-o-que-debate-sobre-o-marxismo-leninismo-em-resposta-ao-icaro/>

5 - Debate: pro-stalinismo vs anti-stalinismo, a segunda resposta ao ÍCaro in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/23/debate-pro-stalinismo-vs-anti-stalinsmo-a-segunda-resposta-ao-icaro-2/>

6 – Karl Marx, 18 Brumário de Luís Bonaparte in Karl Marx & Friedrich Engels Obras Escolhidas, v 1, São Paulo, editora Alfa-Omega, pp. 278.

7 – obra citada, pp. 278-279.

8 – Karl Marx, Carta a Engels (em Manchester) in <http://www.marxists.org/portugues/marx/1856/04/16.htm>

9 - Debate: pro-stalinismo vs anti-stalinismo, a segunda resposta ao ÍCaro in <http://ocommunard.wordpress.com/2013/01/23/debate-pro-stalinismo-vs-anti-stalinsmo-a-segunda-resposta-ao-icaro-2/>

10 – Ícaro Leal Alves, Alguns Problemas do Paradigma Trotskista in <<http://www.republicasocialista.blogspot.com.br/2012/11/alguns-problemas-do-paradigma-trotskista.html>>

11 – Ícaro Leal Alves, Carta Aberta aos Editores de O Communard in <<http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/carta-aberta-aos-editores-de-o-communard.html>>

12 – Sobre as Origens do Socialismo em um só pais <<http://comunidadestalin.blogspot.com.br/2013/01/sobre-as-origens-da-teoria-do.html>>

13 - Vladimir Lênin, Sobre a Palavra de Ordem dos Estados Unidos da Europa, in V.I. LENIN OBRAS ESCOLHIDAS EM TRÊS TOMOS; V. 1. – São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1979. Páginas 569-572. Também disponível em << http://www.marxists.org/portugues/lenin/1915/08/23.htm>>.

14 - Vladimir Lênin, O Programa Militar da Revolução Proletária, in V.I. LENIN OBRAS ESCOLHIDAS EM TRÊS TOMOS; V. 1. – São Paulo: Editora Alfa-Omega, 1979. Página 680. Também disponível em <http://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/09/programa.htm>

15 – Amy Knight, Quem Matou Kirov? O maior mistério do Kremlin; tradução Sergio Mouras Rego. – Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001. Pp. 353

16 - Quem Matou Kirov? O maior mistério do Kremlin; tradução Sergio Mouras Rego. – Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001. Pp. 240.

17 - GETTY, John Arch. Origins of the Great Purges: The Soviet Communist Party Reconsidered, 1933-1938. – Cambrigde: Cambrigde University Press, 1985.   Pp. 1-3.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Resposta ao "Connard"

Resposta ao "Connard"

Por: Lúcio jr

 Questionei, outro dia, um tal "communard" por desejar que não se falasse sobre Stálin no Portal O Vermelho, do PC do B. Ele me chamou de "stalinista" e depois cortou minha resposta, o "connard" (bobão, em francês).

Stálin está na história e em boa parte na origem do PC do B, que podemos dizer que se formou ideologicamente em 62. Ele, que se diz sociald-democrata, já me etiquetou de stalinista logo de saída. O texto dele está aqui:


https://ocommunard.wordpress.com/2013/01/22/questionamentos-de-alguns-stalinistas/


Eu decidi não perder tempo com tantos argumentos de um social-democrata. Para ele, a revolução de 17 não deveria ter acontecido, assim como, embora ele poupe Trotsky, ele insiste na tal da revolução permanente ( teoria de Trotsky!!!). Ele é contra Lenin, Stalin e "Trotsky caiu com a URSS", mas se diz comunista. E ainda pontifica que não se deveria falar em Stálin. Por que não largar o PC do B e ir para um partido social-democrata, meu chapa???

O que se pode dizer para alguém assim? Por que há tantos social-democratas, ou seja, liberais reformistas, em partidos comunistas no Brasil? E o pior, para ele, "estatismo" é algo ruim, que o Marx que ele cria só para si (Marx é ele) rejeitava. Mas um social-democrata de verdade é a favor do estado empresário, do estado de bem-estar social.

Ou seja: o bobo "connard"), é um neoliberal fraudador, expert em sofistarias, se escondendo atrás do nome de Marx.

Vejam a que ponto chegamos: as pessoas estão num partido comunista, mas são na verdade neoliberais governistas. E ainda se permitem cobrar dos outros o que pode e o que não pode.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Nova Carta Aberta aos Editores de O Communard



Salvador, Bahia, Brasil

22 de janeiro de 2013


Senhores editores. Gostaria de demonstrar minha gratidão pelo espaço concedido. Fiquei verdadeiramente grato por terem postado minha Carta na integra no vosso portal e pela rapidez da resposta. Também gostaria de advertir sobre o fato de que caso pretendam continuar essa conversa após esta carta talvez minhas respostas passem a demorar um pouco mais e se tornem mais curtas. Já que a partir do dia 28 do corrente mês retomo minhas atividades universitárias. Mas decide aproveitar enquanto ainda tenho algum tempo livre, que costumo ocupar com meus estudos particulares sobre a história do socialismo para esclarecer alguns pontos levantados por vocês em sua resposta ao Lúcio e a mim.

Quando afirmo que pode-se dizer que a palavra stalinismo foi inventada por Trotsky para detratar Stalin isso não tem por base qualquer abstração. Trotsky estava interessado em fazer parecer que Stalin era um usurpado, que não dispunha dos atributos necessários para substituir Lenin na direção do Partido Comunista, que o havia traído e, que ele era, por outro lado, o mais capacitado para isso e o legitimo herdeiro do líder morto. Trotsky usava o termo stalinismo para tentar criar uma fenda entre o Partido Comunista de Stalin e o Partido Comunista de Lenin, que ele denomina como bolchevismo. Escreve um texto chamado stalinismo e bolchevismo onde apresenta essa ideia.

Estou plenamente ciente que a tendência a associar um líder ou autor à determinada corrente política é comum. Porém, a questão é saber se esse autor, ou líder especificamente deva ter a seu nome anexado o “ismo”. Para deixar claro, você afirma o “stalinismo não é uma pecha ou qualquer outra coisa, é apenas a referência usual de associar o autor a uma escola de pensamento que ele defende, o que essencialmente significa aqui, em termos teóricos, a teoria do ‘socialismo de um país só’.” O problema é exatamente que é Lênin e não Stalin quem inaugura essa teoria no campo do marxismo. Devemos chama-la, portanto, de Leninismo. Mas a frente, já nas tantas do texto, vocês afirmam que isso é absurdo. Mas deixemos a questão de provar se Lênin de fato foi o inaugurador dessa teoria mais para frente.

Quanto ao legado de Stalin, a referência a industrialização foi escolhida mais pelo fato de outras correntes políticas serem capazes de reconhecer um caráter positivo nesse feito do que em outro motivo. Mas também citei a vitória do exército vermelho sobre a Alemanha nazista durante a Grande Guerra Patriótica (1941-1945). Tudo que quis dizer é que, no geral, se não se pode denominar nenhuma corrente política especifica como stalinismo, essa denominação só poderia estar ligada ao reconhecimento de qualquer mérito do período de Stalin. Então, seria isso o stalinismo?

E mais. É completamente falso afirmar que o reconhecimento da industrialização de Stalin como um legado positivo do seu regime seja o mesmo de reconhecer o caráter positivo do capitalismo. Ou, para ser mais justo. É bom lembra que Marx reconhece o papel positivo que a burguesia joga como classe revolucionária num primeiro momento de sua acessão. É bom lembrar que no seu programa de dez pontos no final da sessão dois do manifesto comunista Marx apresenta no ponto sete e oito a ideia da industrialização. Também para ele o governo revolucionário deveria estar comprometido com o desenvolvimento das forças produtivas inclusive organizando exércitos industriais de trabalho.

É necessário lembra também que a revolução industrial de Stalin foi um processo titânico sem precedentes. Nunca, nenhuma industrialização se processou de maneira tão rápida e tão autárquica como ela.  Sem essa industrialização muito dificilmente a URSS teria suportado o peso da ocupação alemã e derrotado a Alemanha nazista.

No ponto em que trata de Marx e a Rússia acho que houve uma grave desatenção da parte de vocês ao analisar meu texto. Vejamos. Vocês afirmam “(...) a concentração industrial não é uma medida de ‘grau de desenvolvimento das força produtivas’, em um capitalismo retardatário representa, pelo contrário, o seu atraso, já que não passou por uma fase onde houve grande pluralidade de pequenas indústrias, etc, etc.”. Mas devo lembrar que não estamos em contradição quando ao atraso da Rússia autocrática de 1917. O que afirmei foi “(...) existe uma base sólida para o socialismo marxista na Rússia”. E por que afirmo isso? Porque o aparecimento da indústria e sua rápida concentração gera a formação do proletariado moderno. A concentração industrial na Rússia, em alto nível, da vazão a criação do proletariado moderno, que é, segundo Marx, a força social motriz da revolução socialista.

Outra passagem que me leva a crer que houve uma seria desatenção é o seguinte; “(...) Marx declara como postulado científico de que a revolução comunista é resultado das contradições entre as forças produtivas modernas e as relações de produção capitalistas, se você retirar esse postulado de Marx, você está o acusando de socialista utópico.” E disso conclui “Ícaro afirma que tratar a revolução como fruto das contradições entre as forças produtivas e as relações de produção, apesar de ser uma afirmação de Marx, é uma “análie economicista”, e que esta foi a causadora da degenerescência dos Partidos Socialistas da Segunda Internacional.” Na minha Carta Aberta aos senhores tudo que afirmo é; “(...) afirma-se que o bolchevismo é voluntarista. Que acredita que a revolução é obra de uns poucos escolhidos. E que está em oposição à formulação de Marx de que a revolução é fruto das contradições entre as forças produtivas e as relações de produção. Tal analise economicista foi à motivação da degenerescência dos Partidos Socialistas da Segunda Internacional. A Revolução só pode ter sucesso porque existe essa contradição, mas ela não se resolver por si mesmo, sem o papel das classes sociais, das organizações políticas e dos indivíduos.” Como veem a desatenção fez com que vocês entendessem mal as minhas palavras. Primeiro apresentei a formulação que vocês fizeram segundo a qual existe uma oposição entre o bolchevismo e a teoria de Marx das forças produtivas e em seguida expliquei que a teoria de Marx de tal forma interpretada é o motivo da degenerescência da Segunda Internacional. Logo em seguida afirmo “A Revolução só pode ter sucesso porque existe essa contradição, mas ela não se resolve por si mesmo, sem o papel das classes sociais, organizações políticas e dos indivíduos.” Bem entendido, a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção é o que possibilita as rupturas sociais que engendram a transformação das relações de produção, mas essas rupturas e transformações são tarefas que competem aos homens, partidos e classes sociais executarem. A negação desse papel que compete ao agente político em todas as suas instancias (coletivas e individuais) é a base do economicismo não a teoria das forças produtivas de Marx.

Num dos prefácios de Engels a edições posteriores do manifesto comunista – que vocês acusam Lênin de ignorar – ele relembra a imensa importância política que Marx atribuía ao papel da consciência política e por isso mesmo ao desenvolvimento intelectual dos trabalhadores através de suas experiências políticas. Ele não era, portanto, de maneira nenhuma um espontaneista.

Quanto a ditadura democrática revolucionária dos operários e camponeses. Primeiro é bom salientar que se os bolcheviques ainda se baseavam no lugar comum da socialdemocracia internacional da impossibilidade do socialismo na Rússia antes da vitória da revolução europeia, Lenin com a teoria citada já lançara as bases de sua superação. A ideia da impossibilidade do socialismo na Rússia atrasada, que é o ponto chave da teoria da revolução permanente tem a seguinte lógica. Ela pressupõe que a revolução socialista contrapõe o proletariado à totalidade da nação. E que, portanto o proletariado (entendido como operário industrial) só pode se lançar a revolução socialista quando for a maioria absoluta da população. Dai decorreria, no mínimo, que o marxismo não é a teoria da revolução. Já que está explicito em Marx e em sua lei da composição orgânica do capital que as economias capitalistas mais desenvolvidas tendem a reduzir a sua força de trabalho industrial em proveito da máquina. A teoria da revolução permanente, também se baseia na ideia de que os camponeses representam sempre um bloco contrarrevolucionário que se opõe ao proletariado. A teoria leninista da ditadura democrática revolucionária dos operários e camponeses (que gosto de chamar de teoria da revolução ininterrupta) é nesse sentido uma inovação no corpo teórico do marxismo vigente na Segunda Internacional, mas não em absoluto no marxismo.

“(...) explique o que poderia ser um ‘governo de ditadura democrática revolucionária dos operários e camponeses’?” Atendendo ao seu pedido explicarei o que é esse tal governo. O que achei muito interessante foi sua primeira objeção à teoria leninista da revolução. “(...) como pode haver uma ditadura se é uma democracia?” Referindo-se aos socialistas do tipo da Segunda Internacional Lenin afirma em seu O Estado e a Revolução; “Para estes senhores, a ‘ditadura’ do proletariado ‘contradiz’ a democracia!” Durante todo o texto segue explicando a maquinação teórica através do qual esses socialistas conseguem  essa façanha. No seu A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky escrito no ano seguinte faz o mesmo percurso para rebater o novo adepto da oposição entre “ditadura” e “democracia”.

O procedimento é simples. Os socialistas da Segunda Internacional simplesmente contrapõe o conceito de democracia em geral ao de ditadura em geral e chegam a essa conclusão original. O que eles se abstêm de fazer é a pergunta “que classe exerce a ditadura?” O conceito de ditadura do proletariado de Marx, por exemplo. É obviamente muito mais democrático do que a democracia burguesa, que é a democracia de uns poucos e a ditadura do Capital para os trabalhadores. Dessa forma a ditadura pode ser democrática e qualquer democracia pode ser ditatorial. Se alguém pode ser acusado de introduzir uma confusão na questão da relação entre ditadura e democracia não será Lenin. A palavra ditadura na formula decorre de uma conclusão do próprio Marx de que o governo nascido de uma revolução só pode ser uma ditadura e uma ditadura enérgica. E a palavra democrática faz aqui muito mais referência as tarefas burguesas que ele tem de cumprir (convocação da constituinte, reforma agrária) do que a forma de governo.

Logo em seguida você se questiona “(...)como o governo poder ser operário (revolucionário) se é unido aos camponeses (...)” ? Segundo diz, Marx afirma que os camponeses são em sua maioria reacionários. O que Marx afirma é que os camponeses foram à base do golpe de Estado na França no inicio dos anos 1850. E devido a sua condição de isolamento e o atraso em que vivem não podem propor uma alternativa de poder, devendo apoiar esse ou aquele poder existente e que se originam no capitalismo em grandes centros urbanos. Afirma também que o motivo maior da derrota da revolução na França daquele período foi o massacre do proletariado parisiense entre junho e julho de 1848 e as hesitações políticas da pequena burguesia social-democrática das cidades. Numa leitura mais atenta de 18 de Brumário fica claro que os resultados daquela convulsão social seriam bem outras se o proletariado tivesse conseguido conquistar os camponeses e isolar Luís Bonaparte. 

Além disso, é o próprio Marx quem apresenta pela primeira vez essa ideia. Em uma carta a Engels, datada de 14 de abril de 1856, quatro anos após escrever seu 18 de Brumário, Marx indica que; “A coisa toda na Alemanha dependerá da possibilidade a apoiar a revolução proletária com uma espécie de segunda edição da guerra camponesa. Então a coisa será óptima.”.

Como tudo que ficou tido é claro que a teoria de um governo de ditadura democrática revolucionária dos operários e camponeses, a teoria leninista da revolução, apoia-se no próprio marxismo e não está em contradição com este.

Ao tratar com o problema da insurreição você se questiona como é possível tratar a insurreição como um arte, tal como afirma Lenin. E dá a entender que Lenin não fornece nenhum indicativo para isso. Ao afirmar que a insurreição deve ser tratada como uma arte Lenin não diz nenhuma novidade. Ele simplesmente diz que a insurreição é uma operação militar, ainda que não convencional, e, como tal, é uma arte. A arte militar consiste tão somente no calculo de forças em combate, na boa disposição dos efetivos em luta, no seu posicionamento em pontos estratégicos. Vide que no inicio do texto Lenin lista uma serie de ponto que compõe a arte insurrecional com base na concepção política do marxismo; “Para ter êxito, a insurreição deve apoiar-se não numa conjura, não num partido, mas na classe avançada. Isto em primeiro lugar. A insurreição deve apoiar-se no ascenso revolucionário do povo. Isto em segundo lugar. A insurreição deve apoiar-se naquele ponto de viragem na história da revolução em crescimento em que a atividade das fileiras avançadas do povo seja maior, em que sejam mais fortes as vacilações nas fileiras dos inimigos e nas fileiras dos amigos fracos, hesitantes e indecisos da revolução.” Logo em seguida faz uma comparação entre a situação de 3-4 de julho de 1917 e a de setembro do mesmo anos, tendo por base esses três pontos. Essa é a arte da insurreição.

Quanto ao ponto relativo a interpretação de Marx da experiência da Comuna de Paris e a sua suposta deturpação por Lenin vejamos. Você acredita que a restrição que Lenin atribui às palavras de Marx; “torna extensiva a sua conclusão apenas ao continente” extrapola as palavras de Marx. Mas veja. No prefácio a edição inglesa de 1886 de O Capital, Engels afirma “(...) em tal altura (do aparecimento da revolução social na Europa), terá de se ouvir a voz de um homem (Marx) cuja teoria toda é o resultado do estudo, durante uma vida inteira, da história económica e da situação da Inglaterra, e a quem esse estudo levou à conclusão de que, pelo menos na Europa, a Inglaterra é o único país onde a inevitável revolução social pode ser efetuada inteiramente por meios pacíficos e legais.” Pelo vistos não é somente Lenin quem vê nas palavras de Marx uma restrição ao continente. Pelo contrário, seu companheiro intelectual e de lutas da vida inteira também o vê. Mas adiante você pretende fazer crer que Lenin tenha criado essa falsa restrição para manipular as palavras de Marx e afirmar que a revolução popular podia ser realizada sem a destruição da máquina do Estado. Vejamos o que de fato Lenin deduz dessa restrição; “Em 1917, na época da primeira guerra imperialista, essa restrição de Marx cai: a Inglaterra e os Estados Unidos, os maiores e últimos representantes no mundo da "liberdade" anglo-saxônica, sem militarismo e sem burocracia, se atolam completamente no pântano infecto e sangrento das instituições burocráticas e militares à européia, onde tudo é oprimido, tudo é esmagado. Atualmente, tanto na Inglaterra como na América, ‘a condição prévia para uma revolução verdadeiramente popular’ é igualmente a desmontagem, a destruição da ‘máquina do Estado’ (levada, de 1914 a 1917, a uma perfeição européia, imperialista).” E essas palavras são de quatro parágrafos depois da citação de Marx.

Logo em seguida você comete mais um engano com a obra de Lenin, afirmando que ele “problematiza o termo ‘popular’ apenas para atingir Plekanov o acusando de não saber diferenciar uma revolução burguesa de uma revolução proletária (...)” Mas o que Lenin faz é exatamente o contrário condena Plekhanov e seus pares por não enxergarem nada além dessa antítese e ainda assim de uma forma morta. “(...) os adeptos de Plekhanov na Rússia, assim como os mencheviques, esses discípulos de Struve, desejosos de passar por marxistas, poderiam tomá-la por um ‘engano’. Reduziram o marxismo a uma doutrina tão mesquinhamente liberal que, afora a antítese - revolução burguesa e revolução proletária - nada existe para eles, e, ainda assim, só concebem essa antítese como uma coisa já morta.” São as palavras do próprio Lenin. “(...) segundo essa tese (burgues ou popular), ou a revolução francesa é impossível, porque popular e burguesa ela com certeza foi.” Você afirma no mesmo paragrafo. Essa impossibilidade da revolução francesa só existiria, talvez, de acordo com as suas teses de revolução. “Em compensação, a revolução burguesa na Rússia em 1905-1907, sem ter tido os ‘brilhantes’ resultados da portuguesa e da turca, foi, sem contestação, uma revolução ‘verdadeiramente popular’”. São as palavras de Lenin no mesmo texto, que de maneira nenhuma vê incompatibilidade entre a revolução “burguesa” e “popular”. Segundo ele a revolução russa era, em 1905, burguesa, mas, o seu resultado deveria ser, como já vimos, um governo de ditadura democrática revolucionária dos operários e camponeses (ou, um governo popular). Como fica claro você fez uma enorme confusão na obra de Lenin.

Encerrado esse tópico você se questiona como a Comuna, que realizou a quebra do Estado, poderia criar outro Estado. Bem, você diz que encerra a leitura do texto de Lenin com o titulo do subitem 2 do capitulo III. Deveria ter continuado a leitura que é muito esclarecedora. Nesse item Lenin nos traz também uma citação direta de Marx; “A Comuna foi a forma determinada de república que devia eliminar não apenas  a forma monárquica da dominação de classe mas a própria dominação de classe (...)”. Como se vê Marx ainda compreende a Comuna como Estado e o trata em termos de forma de Estado, “república”. Um Estado de um tipo novo e especial, pois a realização de sua tarefa definitiva leva ao desaparecimento do Estado. Disso Lenin conclui que o Estado Comuna é um novo tipo de Estado, que não é mais Estado no sentido próprio do termo.

Com base em todos esses equívocos e atrapalhações com a obra de Lenin você continua a afirmar que o bolchevismo de alguma maneira contradiz o marxismo. Apela ainda para a teoria das experiências socialistas do século XX como acumulação primitiva do capital. Acumulação que se deu em países já capitalistas. Como explicar por essa lógica a adesão da Checoslováquia, país já industrial antes da adesão ao bloco soviético, também eles realizaram sua acumulação primitiva. Fora isso, ainda resta o inconveniente do planejamento central, do fim da acumulação privada, entre outros elementos que não se coadunam com essa tese. A própria ideia de que a crítica que Engels direciona a Lassalle possa ser transpassada dessa forma tão abrupta as experiências do socialismo real ignora que Lassalle fora adepto da emancipação dos trabalhadores alemães pelo Estado prussiano enquanto a experiências do socialismo real nasce da ruptura com esse.

Como já me estendi demais aqui peço que aguarde. Escreverei mais uma vez. Respondendo a outros questionamentos presentes no texto.

Atenciosamente
Ícaro Leal Alves